10.9.09

Esse é um aviso de curta duração e direcionado a todos os interessados. Se vocês estão aqui lendo isso, sabem quem são.

Sim, eu estou namorando com ela.

Aos que não fazem idéia de quem estou falando e/ou já foram notificados diretamente por mim, seu interesse no post será bastante pequeno, podem ir dormir ou vir me perguntar que porra é essa via MSN.

Aos que realmente a amam e só querem se certificar que eu não vou fazê-la sofrer, sem quererem ficar lendo sobre o assunto por autoflagelo ou coisa que valha: sim, eu a amo. E sim, meu objetivo na vida é fazer essa menina feliz. Obrigado, sincero, por reagirem como homens e não piorarem o lado dela, vcs sabem tanto quanto eu como isso a faz mal, e se tem uma única coisa que nos une, é a certeza de que ela já sofreu demais e não precisa de mais merda nessa vida. Estou fazendo minha parte, e agradeço de coração a vocês por estarem fazendo as suas. Qualquer um que a ama de verdade é meu amigo, independente da reciprocidade.

Aos que ainda estão aqui, por curiosidade mórbida ou por despeito, eu vou dizer isso uma única vez: não usurpei o direito de ninguém. Não furei nenhuma fila, porque não existe fila ou lista de merecimento para relacionamento. Existe amor e vontade de se entregar. Quando a vontade é mútua, como é nosso caso, funciona. Quando não é, não funciona. Assim como ela, eu também saí de um casamento que drenou toda e qualquer vontade de me envolver de novo com alguém. Quando eu a conheci, eu fui esperto o suficiente para notar que tinha muita gente emocionalmente investido nela, e não fiz qualquer esforço pra ser mais um. Por meses, tivemos uma amizade bem sincera e o amor que eu nutria por ela era o mais isento possível de carência ou necessidade de retribuição.

E eis que agora, sem qualquer intenção ou esforço para tal, nos apaixonamos. Eu por ela, ela por mim, ao mesmo tempo. Não existe um porquê. Não existe um segredo. Nem uma técnica ninja nem um feromônio nem qualquer porra do tipo, só aconteceu. E foi difícil pra nós também, porque - alou - nenhum dos dois queria isso. Mas essas coisas quando têm de ser, não respeitam a razão. Não respeitam hierarquia, não respeitam antiguidade, nada. Não respeitam nem as nossas próprias resoluções, que não eram menos verdadeiras porque mudaram. Só mudaram.

As coisas mudam.

Apesar disso, a única certeza que eu tenho nessa vida é a que eu já tinha quando eramos apenas amigos. Que eu quero vê-la feliz. E ela está feliz, comigo, apesar de isso não fazer sentido nem pra mim. Mas está. E no dia que deixar de estar, no dia que eu tiver a MENOR desconfiança que faço mais mal do que bem para ela, vou voltar a ser amigo dela antes do mais psicótico de vocês fazer menção de me olhar feio. Quanto a isso, não se preocupem. Não tenho a menor ilusão de que eu não vá ser filmado e avaliado por centenas de "irmãos mais velhos" que ela ganha a partir de hoje, mas minha autocrítica é muito mais severa do que qualquer crítica vinda de gente que nem me conhece, então caguei.

E por falar em fazer mal, se tem uma coisa que faz MUITO mal a ela, que a deixa se sentindo o pior ser humano da face da terra, que realmente acerta as feridas dela, é ficar choramingando ou cobrando explicações. O que aconteceu não se explica. Não se justifica. Não tem lógica, nem teria se tivesse sido com qualquer outra pessoa além de mim. Não é racional e nem tampouco invalida quem nós dois éramos antes disso. Tentar extrair uma justificativa só vai jogar a auto-estima dela no lixo, e me desculpem, entre ver minha mulher de cabeça erguida e se sentindo bem ou dando ombro pra desabafo de malandro e se sentindo a escória da humanidade, ela claramente prioriza a segunda opção, mas eu priorizo infinitamente mais a primeira. Ombro todo mundo tem. Ela só tem uma, e eu pretendo preservá-la.

E isso é muito mais apologias do que eu devo a qualquer ser humano pelas coisas que eu faço, mas estou sendo cavalheiro. Espero ser retribuído com igual cavalheirismo, não em meu nome, mas em nome de qualquer resquíscio de sentimento verdadeiro que vocês tenham por ela e que não esteja associado a uma ansiedade de ser retribuído.

Sinceramente,

Rafael
Rio de Janeiro, 10 de Setembro de 2009

15.6.09

É curioso olhar para trás e pensar em quanta coisa aconteceu no último ano. Há muito tempo já eu vinha tendo aquela sensação de que os anos passavam muito rápido, sem dúvida consequência de uma vida levada em função da espera. O tempo voa quando não se está indo a lugar nenhum. Os últimos 365 dias, no entanto, me pareceram mais longos do que os 1000 que os antecederam. Nem tudo o que aconteceu foi bom - pra falar a verdade, eu diria que foi bem equilibrado entre momentos bons e ruins, entre a glória e o fundo do poço. Assim é a vida nas CNTP, então nenhuma novidade. Mas sem dúvida, muita coisa aconteceu. Ou eu passei a perceber mais os acontecimentos ao meu redor, a me envolver mais, sei lá.

Penso muito sobre meus irmãos, que completam 3 anos de vida daqui a alguns dias. Quando eles nasceram, parecia que estavam crescendo em fast-forward. Mal eu havia piscado, já estavam fazendo 1 ano. Outra piscada, e faziam 2! Isso me deixava angustiado, por achar que estava perdendo a infância dos meninos, morando tão longe. E também me incomodava porque esses 2 anos deviam ter valido tão mais para eles do que para mim. Nas minhas mais antigas memórias, 2 anos de vida pareciam uma eternidade. Especialmente porque normalmente esse era o máximo de tempo que eu passava morando no mesmo lugar, estudando no mesmo colégio, com a mesma turma de amigos. Aprendi que em 2 anos se vivia uma vida, e eu vivi várias.

E no entanto, enquanto planejo uma escapada para ir vê-los agora no terceiro aniversário, fico feliz em perceber que a sensação mudou para "nossa, eles estão fazendo SÓ três anos!" E que o último aniversário deles parece que aconteceu há decadas.

Foram muitas micro-vidas nesses 12 meses. Muitos projetos, muitas realidades diferentes. Lugares novos, rostos novos, rostos antigos que eu nem havia percebido o quanto me faziam falta. Novas direções, novos tropeços, novos pontos de vista que modificaram completamente coisas que eu achava que conhecia muito bem. E se por alguns instantes eu tive receio de estar sendo leviano, sei que é natural da infância - qualquer infância - que os momentos sejam muito intensos e muito efêmeros. E eu aprendi a gostar deles assim. A suposta segurança que a estabilidade traz, aquela que eu almejei durante toda a minha história de mudanças e recomeços, tem um lado sombrio que atualmente não me interessa. Prefiro o demônio que eu conheço.

Muitas dessas revoluções estão acontecendo dentro da minha cabeça, e eu sei melhor do que deixar transparecer. Mas estão lá. E estão sendo devidamente registradas, mesmo as mais passageiras e as mais desagradáveis. Têm o gosto agridoce da familiaridade misturada com a novidade. E o alívio de não precisar mais ser o vencedor que conquistou seus demônios e suas limitações, físicas e químicas, e virou perfeito - um perfeito boçal. Chega de me preocupar em manobrar a vida em direção a um futuro que não sobreviveria ao escrutínio do tempo e da lógica de qualquer forma. A instabilidade não é tão ruim para quem se criou nela, e o carinho com que eu recordo os últimos 12 meses da minha vida me fazem pensar que a vida é melhor aproveitada de momento em momento, sem se preocupar com a continuidade.

Que venha o meu próximo neoaniversário. Tenho fome de viver.

Wind

16.2.09

Eu só queria dizer que é ok sentir desamparo de vez em quando. Foi assim que você aprendeu a resolver as coisas sozinho, não foi? Encarando os problemas maiores que você porque estava amparado e protegido das consequências de um fracasso, e construindo sua experiência. Natural sentir falta agora que se está encarando desafios maiores e a rede de segurança não dá mais conta de uma queda. Isso é evolução.

Queria dizer que o medo é um dispositivo de segurança e que saber a exata medida entre dar ouvidos a ele e ignorá-lo não é uma ciência simples, ou exata. Ninguém vai te julgar por cometer enganos, exceto as pessoas que julgam por esporte, mas essas são as verdadeiras fracassadas e jamais saberão o que é uma conquista porque se borram de medo de tentar.

E também dizer que não é nenhuma vergonha se sentir solitário numa multidão. A partir de um ponto da vida, cada um escolhe seu caminho e seu ritmo e isso separa, sim, as pessoas. Não é todo mundo que se aprofunda tanto na compreensão da própria alma - menos ainda na dos outros. Isso não faz de ninguém mais ou menos egoísta, mas certamente faz mais ou menos qualificados para fazer companhia ou contribuir edificantemente para seus questionamentos. Milhares de boas intenções podem não gerar uma única ação eficiente, e essa é a vida.

Mas acima de tudo, quero dizer que não é nenhuma fraqueza ou humilhação ter que estar escrevendo isso pra você mesmo. Se é o que você precisa ouvir, e tem que ser na terceira pessoa pra fazer efeito, então estamos apenas sendo pragmáticos. Porque é melhor tomar a iniciativa de resolver do que continuar lamentando as condições externas não-favoráveis, porque só a primeira atitude gera resultados.

E você é um solucionador de problemas. Um dos melhores que eu conheço. Orgulhe-se disso, sempre!

10.1.09

Se tem uma coisa que me frustra, é ser cada vez mais incapaz de assimilar e racionalizar minha própria vida. Era algo que eu fazia com relativa facilidade ao longo da adolescência (afinal, tinha bem menos vida para analisar, e vários aspectos dela ainda eram desconhecidos), e de fato me orgulhava das minhas autoanálises sempre tão acertadas. Acho que pessoas que não questionam e não avaliam as coisas deixam de subir no bonde da maturidade para vagar a pé e sem rumo pela vida. Mas tanta coisa aconteceu de lá para cá que o próprio volume de dados tem dificultado e ralentado o processo. E eu, como todo bom TDAH, abomino processos lentos.

Depois das grandes mudanças do ano passado, eu tive que botar para funcionar músculos analíticos que há muito estavam adormecidos ou funcionando no automático, terceirizados. Cheguei a alguns pontos importantes que, teoricamente, me revolucionaram o pensamento e me fizeram entrar num novo estágio de maturidade. Mas não raro eu me pego conjecturando se na verdade não involuí mais ainda, se não voltei a ser um adolescente despreparado dando murro em ponta de faca para aprender que corta.

Acho que é uma consequência natural do reaprendizado, ter que revisitar fases da construção do caráter que já havíamos superado. Algo como fazer um novo vestibular depois de formado. É sempre tudo tão diferente, e, ao mesmo tempo, tão estranhamente igual. Até a sensação de nostalgia e deslocamento está lá. E o desespero eventual de achar que já estive ali antes e que não estou de forma alguma andando para a frente.

É como o que acontece comigo quando eu passo algum tempo sem nadar. A maior dificuldade de retomar natação depois de um intervalo grande (festas de fim-de-ano, férias, etc.) não é a condição física ou a resistência. É a apnéia. Toda vez, é um esforço para convencer meu cérebro que meu pulmão tem oxigênio suficiente e que eu não estou morrendo e não preciso iniciar movimentos espasmódicos de sobrevivência. Não costumo levar mais do que duas ou três chegadas para bloquear o instinto, mas são momentos intensos em que a razão batalha com o inconsciente, e sempre enfrentando a real possibilidade de perder.

Alguns aspectos da minha vida atualmente são como uma longa submersão. E eu tenho plena consciência de que fui eu que escolhi dar o mergulho, movido por vários sentimentos, e dentre eles, obviamente, a necessidade de me testar e de vencer a desorientação e a falta de sentido que a depressão do ano passado me deixaram como aftertaste. Mas toda e qualquer segurança que eu demonstro vem unicamente da certeza que: 1) eu já fiquei submerso no turbilhão por mais tempo antes e sobrevivi; e 2) apesar do meu subconsciente não acreditar, existem benefícios a serem colhidos por viver mais essa provação.

Infelizmente, isso não impede o subconsciente de me fazer passar por um terror sobrepujante, e de me perguntar às vezes se isso tudo vai mesmo acabar bem, se eu não cometi algum erro monstruoso de cálculo que vai por tudo a perder. E as consequências de um erro a essa altura do campeonato seriam mais do que eu sou capaz de aguentar, porque por mais controladas que sejam as condições, o meio onde me desloco é potencialmente fatal.


Wind