31.12.08

Carta a 2009

Olá. Ainda não nos conhecemos, muito prazer. Sou o Rafael. Estaremos juntos pelos próximos 365 dias, e eu queria dizer umas coisas antes de começarmos.

Sei que você mal chegou. Em vários pontos do planeta, você ainda é futuro. Mas garanto que, ao menos por mim, você é muito aguardado, desde sempre. Não digo isso para comprar simpatia, mas unica e exclusivamente para dizer que seu antecessor, 2008, não vai deixar quaisquer saudades. De fato, talvez seja lembrado por décadas e décadas com certa amargura de minha parte, como um amigo que apunhala você pelas costas.

Antes de 2008 chegar, o ano de 2007 tinha sido um ano de construções. Um ano de muito trabalho, muita ralação, e de muitas conquistas. Um ano inteiro que dediquei a criar uma nova realidade, mais confortável, mais nobre, mais próxima do meu futuro ideal. 2008 foi muito aguardado, tanto quanto você é agora. Nos primeiros meses, tudo foi fantástico. Era um ano que tinha tudo para ser o primeiro do resto de minha vida, uma vida de realizações das promessas que 2007 me fez.

Mas hoje, olhando para trás, eu sei que 2008 não estava realmente me amando como eu o amava. Na verdade, hoje eu sei que 2008 me odiava irracionalmente e que tudo o que fez por mim foi uma farsa. O ano nunca quis me favorecer, e eu devia ter desconfiado quando começou a me dar porradas na cara do nada e depois fingir que nada havia acontecido. Mas eu não desconfiei. Eu confio muito nos anos, sabe? É essa mania de acreditar que eles são apenas um ciclo de translação ao redor do sol, apenas um conjunto de 365 dias (366 no caso de 2008) que não diferem em nada dos anteriores ou posteriores exceto por uma convenção social.

Mas o fato é que 2008 revelou sua cara muito cedo, e com um golpe quase mortal, destruiu tudo que 2007 havia construído. Não só 2007, como praticamente tudo que eu havia aprendido com 2003 em diante, e até algumas coisas mais antigas. Massacrados pelo ano traiçoeiro que não acreditava nos meus sonhos. Desse momento pra cá, eu e 2008 tivemos uma relação forçada, pois ocupávamos o mesmo lugar no universo, mas eu obviamente não queria nada com ele e nem ele queria nada comigo. Uma situação que me é inclusive familiar, e talvez por isso eu tenha conseguido juntar forças para esperar a partida dele. Mas não foi fácil. Nosso rompimento aguou todas as outras coisas que ele posteriormente me ofereceu, talvez por cinismo, talvez por pena. Chegamos a rir juntos em alguns momentos, mas eram risadas amarelas. Lá no fundo, eu simplesmente não queria mais ter nada a ver com 2008, nem ele comigo.

E é nesse pé em que você me encontra, jovem ano de 2009. Aliviado por ter sobrevivido a meu algoz, e ansioso, embora cauteloso, para saber como nos daremos.

Tomei o cuidado de não criar expectativas para você. Aceito-o como você chegar. Esse ano, não farei resoluções, nem planos, nem pedirei nada a Iemanjá, nem passarei com roupas coloridas. Não me iludo mais, vocês anos são melindrosos e têm idéias próprias do que farão conosco. Mas minha reticência não é de forma alguma uma predisposição negativa. Por mim, seremos muito amigos, os melhores da história, e teremos muita coisa boa para contar para nossos descendentes. Mas se não for tão bom assim, não ficarei triste. Sei que você não será pra sempre também, e estou ok com isso. Quando 2010 vier, me entenderei com ele, tenho certeza.

Se me permite pedir algo, uma única coisa, só peço que me trate com respeito. Sou paciente, tolerante, não sou mais criança (se tem algo que devo a 2008, foi um enorme amadurecimento), e tenho os pés no chão. Mas não sou invencível, e se você quiser me massacrar como 2008 fez, ou tentar ser pior, não sei como será. Só uma certeza eu tenho, que na sua despedida, no próximo Reveillon, estarei aqui ainda para acertar a conta e passar a régua.

O que acontece entre hoje e lá, fica por sua conta.

Não me decepcione!




Rafael

27.12.08

Enquanto escrevo esse post, estou sentado em uma confortável pedra em formato de sofá, no meio do pasto do sítio dos meus avós, lutando para enxergar algo no monitor apesar do sol ofuscante. Tentei escrevê-lo ontem à noite, mas infelizmente, a despeito dos avanços tecnológicos da última década, sinal de celular (e, consequentemente, internet móvel) aqui só existe do lado de fora da casa, e na curta trégua que a chuva deu ontem, um incidente com uma aranha armadeira que resolveu veriricar de onde vinha tanto brilho e pulou no meu monitor abortaram precocemente meu projeto de blogada. Pelo menos agora está seco e o brilho do monitor, que quase não é suficiente para furar o antireflexo, não vai atrair nenhum aracnídeo peçonhento curioso.

É justo questionar o que de tão importante eu teria para escrever que me fizesse enfrentar a natureza em busca de um resquíscio de modernidade, tão malvisto nestes recantos bucólicos do planeta. O que me motivou foi justamente o lugar. O sítio dos meus avós, Santana do Serrano, carinhosamente conhecido como Bauzinho pela família Savastano. Bauzinho porque ele tem uma vista privilegiada da Pedra do Baú, em São Bento do Sapucaí. Meus avós compraram esse lugar quando eu ainda tinha uns 6 anos de idade. Permutaram pela casa aonde meu pai e alguns dos tios nasceram, e aonde nós (eu e minhas irmãs, uma das quais recém-nascida) tínhamos brevemente residido antes de irmos para o Rio em 86. Desde que consigo me lembrar, o Baú tem sido palco das festas mais divertidas da família, e das viagens mais memoráveis. E sempre que eu piso aqui eu me pergunto por que diabos eu tenho vindo cada vez menos para cá.

Por um lado, tem a ver com o inevitável crescimento da família. Sou o neto mais velho e sempre tive uma exclusividade limitada de direitos na casa da minha avó. Também fui o responsável por desbravar vários caminhos não trilhados, o que evidentemente sempre facilitou a vida dos meus primos e irmãos mais novos. É uma troca justa, mais privilégios e mais responsabilidades. Mas hoje em dia quase todos os 24 (com mais um a caminho!) netos de D. Ângela são maiores de idade, vacinados, e com seus róprios planos para feriados prolongados. Por consequência, graças a uma política social velada, o sítio acabou sendo "herdado" pela segunda geração de netos. E o fato de nunca conseguir uma data que já não estivesse ocupada pelos jovens em questão me fez desencanar um pouco de vir para cá ou trazer amigos (até porque, conseguir agendar outra data importante como o Reveillon de 99 só para mim e para amigos meus provavelmente nunca acontecerá)

Mas por outro lado, não consigo deixar de sentir que parte da culpa é minha. Eu nunca encontrei um lugar para o sítio na minha autoproclamada "vida adulta." E aqui no meio do nada, com vento no rosto e ouvindo a algazarra dos pássaros, eu começo a desconfiar que o que eu fiz foi bloquear uma parte de mim que sempre pertenceu a esse lugar. Porque essa é a parte infantil que vê qualquer buraco no mato como um convite à exploração, um portal para uma aventura fantástica; que associa cada barulho a um ser folclórico ou mitológico, um fantasma ou um alienígena furtivo; que deita na grama para olhar as estrelas e sente que a qualquer momento a gravidade pode se inverter e eu posso cair no vazio imenso.

Tem muitos sonhos inacabados perdidos entre as árvores do quintal e entre as pedras do riozinho. Grandes sagas que eu levava comigo e que continuavam de onde tinham parado sempre que eu botava os pés aqui de novo. Grandes certezas, como a de que eu estava cada vez mais próximo de conseguir levitar ou virar um peixe e respirar embaixo d'água (só precisava ser um pouco mais velho). Grandes amores platônicos da infância e da adolescência que viravam fantasias românticas bestas que sempre - sempre - aconteciam aqui. Nenhum deles teve desfecho, porque ficaram aqui esperando meu retorno, e eu não voltei mais. Até continuei aparecendo, eventualmente, mas sempre como um estranho, como um convidado na minha própria casa.

Não sei por que diabos eu decidi, consciente ou inconscientemente, que não iria mais revisitar meus sonhos. Mas uma coisa é certa. Aquele Rafael pequeno e delirante era muito mais corajoso do que eu. Os espinhos na mão, ralados no joelho, carrapatos na virilha, eram todos parte da diversão. Eram as dificuldades que potencializavam a vitória. Cada vez que eu saía da estrada e inventava uma trilha, eu tinha certeza que ia ficar ardido e incomodado por semanas com as escoriações, mas o impulso era irresistível. Tão diferente do que eu sou hoje!

Para variar, eu não me permiti ficar aqui muito tempo. Mal cheguei e já vou embora. Podia ficar mais, podia voltar para passar o ano novo, mas não ia adiantar muita coisa. Saber da minha dificuldade de conexão com o Baú não ajuda em nada a superá-la, infelizmente. Mas ao menos eu posso tentar levar para casa, no mínimo, esse post. E meditar sobre a lembrança de uma época em que, ao invés de desistir antecipadamente de tudo que requira esforço ou que vá causar dor, eu pulava de cabeça só pela emoção de superar.

1.12.08

Dezembro não começou muito bem. Primeiro, porque a UERJ inventou de voltar da greve a essa altura do campeonato, pra fazer aquele intensivão de 3 semanas antes do recesso de fim-de-ano, efetivamente matando todos os meus planos de passear com minha prima Marcela, que eu não vejo há 11 anos e que chega do Chile no dia 07 para ficar lá em casa. Pensem numa revolta.

Além disso, como muitos podem ter deduzido pelo silêncio, eu não passei no exame de moto. Metade da responsabilidade é minha, talvez por ter deixado o imenso e inevitável intervalo entre a última aula prática e a prova diminuir minha atenção. Mas a outra metade é culpa da porra da autoescola, que mais uma vez me informou mal e me sacaneou muito, mas muito feio. Isso porque após um mês e meio parado, eu estava contando com a prática do dia que, segundo meu instrutor, aconteceria enquanto os alunos aguardavam a vez de ir para a fila do circuito. É claro que não teve. É claro que podia ter, tinha moto (mais de uma) disponível, tinha capacete, eu tinha a grana pra pagar, mas o instrutor que estava lá (não era o meu, pra piorar) fez um enorme esforço para me forçar a "ajudá-lo a me ajudar." Em nenhum momento ele disse nada nesse sentido, mas ele certamente fez bastante esforço para dificultar as coisas para mim, ao mesmo tempo que me olhava com cara de debochado. Nunca na minha vida tive tanta vontade de socar alguém!

Resultado: errei um dos cones logo de saída. Um erro inevitável pra quem passou tanto tempo sem treinar (coisa que aliás é efeito direto da sistemática do Detran, que exige as 15 aulas completas para poder marcar a prova, e sempre abre a marcação 45 dias antes dos exames), e que jamais aconteceria se eu tivesse dado uma mísera volta com a moto de treino antes de pegar o circuito oficial. Não comentei antes porque nem sei o que eu faço agora, minha vontade era desistir, mas eu inventei de fazer a inclusão de categoria junto com o vencimento da carteira, então enquanto eu não conseguir passar na porra da prova, nem carteira de motorista tenho mais. E isso me irrita mais ainda por saber que continuarei dependendo dos pela-sacos da autoescola, pelo menos por hora. Juro que quando isso terminar eu taco uma bomba naquela merda.

E eu que achava que corretores de imóveis eram escrotos.


Wind

15.11.08

10 anos

Antes de começar, aviso logo que esse texto será longo. São, afinal, 3653 dias sendo avaliados. 10 anos, exatos, que cheguei ao Rio de Janeiro definitivamente. 522 semanas como morador da Cidade Maravilhosa. Algumas mais difíceis que as outras. Nesse meio tempo, morei em 7 lugares diferentes (6 apartamentos e uma casa). Alguns tetos, dividi com amigos. Outros, com companheiras. Uns poucos, habitei sozinho. E, recentemente, tive minha irmã morando comigo por alguns meses. Agora, ela mora na Tijuca, mas continua sendo a única família que eu tenho na cidade. E ela veio para cá ano passado!

Quando aportei por aqui, em 15 de novembro de 1998, eu era um moleque. Nem 18 anos completos, recém-formado no ensino médio. Vim para fazer vestibular de jornalismo, mas nem fazia idéia do que seria uma carreira de jornalista, escolhi no uni-duni-tê. Aos pais, disse que vinha pela faculdade. A mim mesmo, secretamente admitia que vinha para ficar junto da minha então namorada carioca, que havia conhecido no início do ano num evento em Brasília (!). Mas a verdade que eu mesmo não admitia era que eu vim porque precisava ser dono da minha vida. Precisava de uma independência e uma liberdade instantâneas, que só a distância pode trazer. Amo minha família, minha mãe e irmãs com quem eu morava, mas eu estava ansioso por vida. Por uma vida minha, pelas minhas regras, meus valores, meu tempo. Minha mãe ainda acha que saí de casa muito cedo. Eu acho que saí na hora certa. Acho que fui bem criado e bem preparado para encarar a vida, e por isso mesmo, não queria desperdiçar um só minuto, queria viver intensamente e sem rede de segurança. E não existe cidade mais intensa do que o Rio de Janeiro.

E a vida, como era de se esperar, me deu umas belas porradas. Me botou de joelhos em um par de ocasiões. Mas a dor virou experiência, e a experiência virou força para contraatacar. A vida também me deu alguns presentes inestimáveis, alguns que eu talvez nem merecesse. E, desses presentes, uns tantos tomou de volta sem pedir licença. A vida, mais vezes do que não, foi completamente nonsense. Eventualmente, foi brilhante em suas reviravoltas. E tudo isso, em retrospecto, era exatamente o que eu esperava da vida. Que ela não me poupasse, que viesse com tudo, desse o seu melhor. E eu dei o meu.

Nesses 10 anos de Rio, alguns ciclos inteiros se iniciaram e terminaram. Entrei e saí (jubilado) de um curso profissionalizante de piano. Entrei e abandonei um curso de informática na UFRJ. Fiz e completei um curso de Desenvolvimento e Design de Jogos 3D na PUC, uma vocação que eu jamais imaginaria um dia ver concretizada. E estou a apenas 1 ano de me formar, finalmente, no curso de Informática da UERJ, que - se a greve não atrapalhar - terei cumprido no tempo mínimo. Também nesse período de tempo, deixei de ser sustentado pela pensão do meu pai, tive meu primeiro emprego - que foi uma bosta -, passei num concurso e atingi a total independência financeira. Ou mudei de provedor, porque saem os pais, entram os bancos. Com o importante detalhe de que os bancos cobram juros.

Mas, se é fato inegável que eu sei muito mais da vida hoje em dia do que sabia há 10 anos, também é inegável que eu não sei grandes coisas. Até cheguei a ter algumas certezas, até bem fortes, que usei para me nortear. Mas percebi que poucas certezas sobrevivem ao tempo.

Uma delas, no entanto, ainda não caiu por terra. A certeza de que existem, sim, belezas eternamente cativantes. Fazem 10 anos que vejo o Pão de Açúcar quase que diariamente. Há pelo menos 3 trabalho ao lado de um janelão com vista para toda a Baía da Guanabara, e da minha janela de casa vejo Santa Teresa sumir por trás das nuvens em dias chuvosos e reaparecer com o sol. E mesmo dormindo e acordando com a cidade, eu sempre me sinto cativado por sua beleza. Nunca enjoei, e acho que jamais enjoarei. Meus períodos de mágoa com o Rio de Janeiro são todos causados por sua política, sua violência, ou pelas características por vezes escrotas de seus moradores. Mas nunca pela cidade. A cidade sempre faz questão de me lembrar por que eu a escolhi como cenário da minha vida adulta. Sempre resgata aquele sentimento de pertencer, mesmo que às vezes eu me sinta tão deslocado aqui. Já não acho mais que sair do Rio seria a morte, mas nunca vou deixar de sentir que, dentre todos os lugares em que morei - e olha que morei em vários - esse era o ideal para se viver os 10 anos mais difíceis e mais prazeirosos da minha vida.

E que fique bem claro que não escolhi o Rio apenas pelas belezas naturais. Foi aqui que fiz os melhores amigos que tenho, é aqui aonde as pessoas mais interessantes do país e do mundo sempre dão uma passadinha. Fiz tantos amigos especiais aqui, que resolvi dar uma festa para eles. Todos eles. Mesmo os que já perderam contato. E, para minha surpresa, a lista de convidados ficou bem grande! Só vem a provar que foram 10 anos muito bem vividos, e o mais importante, bem compartilhados. E a todos que compartilharam esses anos comigo - mesmo que por 24h apenas - ficam meu sincero abraço, meu agradecimento, minhas saudades. E meu convite para aparecerem aqui em casa e jogar conversa fora sempre que quiserem =)

Quando comecei a escrever esse post, achava que ele tomaria a forma de uma retrospectiva, um "compacto" da minha vida adulta. Mas grande parte do que me aconteceu já está de qualquer forma registrado aqui no Blog, seria um esforço inútil relembrar tudo outra vez - o choque de ser expulso de casa, o drama para entrar na faculdade, a descoberta do TDAH, o concurso, meu noivado de 5 anos do início ao término... tudo isso já foi abordado em profundidade antes, e pra ser bem sincero, não é nada disso que define minha história aqui. O que importa é o que restou, dentro de mim. É quem eu me tornei. As dificuldades de hoje serão superadas amanhã, as de amanhã no dia seguinte, e por aí vai. A vida não dá moleza. Mas a vida também nunca me fez estagnar. Estou em constante movimento, sempre melhor, sempre mais sábio. As coisas que perdi, guardarei para sempre comigo na lembrança. Mas as que ganhei, essas eu guardo ao meu redor, ao meu alcance, e é com elas que eu me fortaleço.

Enfim. É estranho reviver uma década. Na preparação para a festa, fiz uma seleção de fotos e músicas de cada era, para mostrar no telão. É, literalmente, ver a vida passar diante de meus olhos. Pela primeira vez, estavam lá, em ordem cronológica, todos os pontos decisivos da minha vida. E pareceu, ao mesmo tempo, uma eternidade e um dia. Estou muito diferente hoje. 10 anos que me amadureceram 25. Mas, por outro lado, parece que foi ontem que cheguei aqui trazendo apenas a fome de viver, e nenhuma certeza. Hoje, vendo como a história se desenrolou, admito que existem capítulos tristes, que talvez tivessem me demovido da idéia de abraçar o mundo caso eu soubesse que seriam escritos. Mas os grandes momentos, as passagens sublimes, vencem de lavada. Posso ser ousado e afirmar que fui feliz. Por que não?

Agora me resta descobrir o que os próximos 10 anos me reservam. E eu mal posso esperar ;)


Obrigado por tudo, gente.

Wind

21.10.08

Mudar não é fácil. Não é a simples e imediata consequência da vontade. Mudar é um rito de passagem, como o nascimento ou a morte. Acontece de uma vez, mas é cercado de consequências e ecos que se propagam por algum tempo.

Mudar também é uma sensação esquisita. Especialmente quando significa abrir mão de coisas que sempre foram tão importantes, fazer concessões e abandonar metas impossíveis em favor das viáveis. Hoje me tornei viável, e isso é muito reconfortante, apesar de me sentir um pouco estranho. Preciso entender que não "amoleci," nem perdi nada de ultra valioso. Que certas posições radicais ou dão resultado cedo, ou nunca mais. E que se eu não alcancei alguns objetivos na vida ainda, é melhor desistir de tentar, sob pena de perder muito mais tempo caçando moinhos de vento.

É ruim também ter que escolher o que levar e o que deixar para trás, mas como não posso levar tudo, tenho que ao menos conseguir levar algo, ou vou ficar para sempre amarrado aos meus destroços, muito grandes para carregar comigo, e muito importantes para serem abandonados. Hoje foi um dia de escolhas, dessas que ninguém deveria ter que fazer. Mas eu fiz. E estou tentando muito me sentir feliz pelo que mantive, e não arrasado pelo que perdi.


Wind

14.10.08

Enquanto escrevia esse GIGANTESCO post, ele se tornou uma espécie de continuação do post do dia 6. Digamos que eu juntei minhas tranqueiras e já estou fazendo uma jangada ;)

A coisa mais estranha aconteceu nos últimos dias. Estranha não, até que era esperada. Mas foi intensa, e foi diferente de como eu imaginava que seria.

Como sempre acontece depois que a vida me dá uma porrada, eu me tranquei em um casulo para tentar reencontrar meu centro. Foi difícil, como sempre é. Passei por todos aqueles estágios horrorosos - raiva, depressão, negação, euforia - e não me orgulho de algumas coisas que fiz e nem falei, mas também não me envergonho. Não acho que muita gente no mundo reagiria melhor do que eu reagi, e grande parte das pessoas reagiria muito, muito pior.

Mas como qualquer casulo, o meu também serviu para me transformar em algo completamente diferente. Reavaliei os últimos anos da minha vida e cheguei a algumas conclusões óbvias, e outras surpreendentes. Ao menos para mim. Foram essas descobertas que me fizeram assumir algumas mudanças radicais de postura, e que estão me fazendo muito bem e me deixando muito feliz.

Não costumo fazer isso, mas vou falar diretamente do meu casamento, porque é a chave para a compreensão de tudo. Quando conheci a Jô, eu estava numa fase excelente da vida, tinha começado o tratamento de TDAH há 6 meses, emagrecido 14 quilos, passado em um concurso público federal que tinha UMA vaga... tudo naquela época era possível, as possibilidades eram ilimitadas. E o início da minha relação com ela não foi diferente. Tudo era correto, em níveis bem mais elevados do que os costumeiros para um relacionamento. Tudo parecia tranquilo de encarar, fácil de solucionar, e eu realmente acreditei que isso seria sempre assim. Claro, nunca me enganei, sei que as pessoas mudam com o tempo, e que relacionamentos longos dependem de mudanças razoavelmente sincronizadas e na mesma direção. Além de uma boa dose de esforço e tolerância, claro. Mas naquela época nós tínhamos tudo isso, de sobra.

Outra coisa que eu sabia muito bem era que em algum momento eu iria atingir meus limites de verdade, e que aí as coisas passariam a ser difíceis de novo, só o que mudaria seria a quantidade de coisas que eu podia conquistar antes de precisar de um descanso. E que nem todos os problemas da minha vida se resumiam ao TDAH.

O que eu não sabia na época, e foi uma constatação recente e amarga, era que simplesmente saber dessas coisas não me fazia automaticamente capaz de lidar com elas. Ou mesmo capaz de perceber quando elas estivessem acontecendo. Esses problemas praticamente me estapearam na cara nos últimos 3 anos, e eu não percebi. E quando percebi, não soube o que fazer. Fui lentamente sendo sufocado e afogado por eles, até que cheguei a um ponto inacreditável em que eu era quase uma sombra, isolado e acorrentado pelos meus próprios fantasmas.

Quando o casamento explodiu, em junho desse ano, eu não consegui acreditar. Demorou para assimilar, para entender o que tinha acontecido. Muito foi discutido sobre causas e consequências, mas a verdade mesmo é que eu estava cego. E nem mesmo ter lido o Ensaio Sobre a Cegueira, do Saramago, pouquíssimo tempo antes da hecatombe me deu o estalo. Foi necessário encarar merda atrás de merda para finalmente acordar para a verdade acachapante. E a verdade é muito simples:

Eu me recusei a crescer.

Do alto da minha arrogância de quem sempre foi um adolescente muito mais maduro do que o resto, eu simplesmente parei no tempo e continuei sendo um adolescente maduro quando deveria ter virado um homem. Meu casamento foi o triste retrato disso. O tempo todo, encarávamos ele como o mesmo projeto pensado por nós dois aos 22 anos de idade, no auge da paixão. Era brincar de casinha. A prova mais evidente disso era a forma como encarávamos a própria festa do casamento. Nunca marcamos data, nunca priorizamos, nunca realmente nos comprometemos a dar esse passo. E não houve um culpado, foi só a forma como nós fizemos. E eu só posso evidentemente avaliar o meu lado da responsabilidade aqui no blog.

Não sei sinceramente o que me ancorou tanto. Não sei se foi o fato da Jô estar chegando ao Rio e passando pelas mesmas coisas que eu passei quando vim pra cá, aos 17 anos, que me fez ficar preso numa reprise do início da minha juventude. Não sei se foi o fato de ter entrado tarde na faculdade e estar cercado sempre de gente 5 anos mais nova que eu, enquanto ao mesmo tempo trabalhava em um lugar cercado de gente pelo menos 10 anos mais velha. Aliás, esse foi meu grande erro, ter passado tanto tempo me sentindo um estagiário, um moleque, no meu próprio ambiente de trabalho. Ainda não consegui quantificar o prejuízo que esse comportamento me causou, mas foi devastador.

O fato é que essa separação dolorosa me jogou no fundo do poço, e por uns bons meses eu simplesmente tentei voltar aos meus 22 anos de idade, viver no passado mesmo. Só que eu não pertenço mais a esse mundo. Não posso me enganar que as menininhas de 19, 20 anos de hoje vão olhar uma foto minha fazendo pose no Orkut e me achar gato. Não posso me enganar que frequentar comunidades de videogame e bandas de rock vai me trazer qualquer interação social que não a de um tiozão maneiro. Só tenho 27 anos, claro, mas a verdade é que pessoas da minha idade não estão socializando mais na internet toda noite. Estão começando a constituir família, estão se focando no trabalho, em criar filhos pequenos... fazendo todas as coisas que eu por tanto tempo me esquivei de fazer. A grande movimentação de volta ao círculo social acontece lá pelos 40, então meu comportamento atual me deixa praticamente no limbo.

Essa constatação amarga me fez finalmente entender o que me deixou tão mal a ponto de ruir um casamento que tinha tudo para dar certo. Não foi minha incapacidade química, ou minha incapacidade social, ou física, nada. Foi minha incapacidade psicológica de abandonar os bons anos da minha vida e encarar a vida adulta de frente. De abandonar minha mentalidade de garoto e mudar meus conceitos, que por tanto tempo eu tive como minha "identidade." E sim, é muito estranho um aquariano resiliente a mudanças, mas esse sou eu. Resistente até o fim, mas sempre radical na transformação.

Foi só quando percebi que já se iam 10 meses fazendo natação regularmente, através dos meses mais intensamente massacrantes da minha vida até o momento, que eu tive a capacidade de abandonar essa "identidade" que eu mantive por teimosia e aceitar que eu sou outro. Outro corpo, outra cabeça, outra idade, outras fraquezas e outras forças. Chega de viver como se 2004 nunca tivesse acabado (e foi isso que eu fiz esse tempo todo).

Não estou obviamente dizendo que vou mudar meu círculo social ou meu comportamento para com as pessoas, eu sempre serei eu. Mas podem acreditar que, por dentro, está ocorrendo uma mudança muito grande. Deixei de achar que eu sou o que como, o que visto e o que faço. Eu sou o que sou, e eu não tenho vergonha de encarar o mundo de cara limpa. Essa mesma cara de bochechas já meio caídas, de olheiras fundas, de pele manchada. Nada disso me incomoda, porque o olhar e o sorriso permanecerão para sempre.

E a primeira mudança radical de postura vai ser em relação ao trabalho. Chega de me isolar aqui. De me comportar como se não pertencesse, de evitar formar laços porque a qualquer momento eu posso sair fora. É claro que posso, mas não estou me ajudando fazendo o tipo gênio-problemático. Não, vou parar de reagir explosivamente, vou falar o que tenho que falar olhando nos olhos e com voz firme. Vou, sim, me defender da política de escritório porque o problema é meu, e não do mundo que não presta. Vou assumir desafios, responsabilidades, e vou tomar as rédeas das coisas quando elas começarem a degringolar ao meu redor. Nunca mais vou ser vítima, e nunca mais vou aceitar as merdas que me servem de colherinha aqui como fatos inevitáveis. Ontem já botei isso em prática e juro que é tão eficiente que estou praticamente dando uma virada de mesa aqui hoje, e fazem só 24 horas que eu comecei!

Também já estou aplicando isso à vida pessoal. Estou controlando meus gastos na ponta do lápis, e quem me conhece sabe que eu NUNCA fiz isso, sempre julguei que eu era "incapaz." Mas não sou, só tenho dificuldade. Assim como tinha dificuldade de fazer exercícios e dieta, e no entanto estou aí fazendo e não tem ninguém me cobrando ou nenhuma recompensa para mim no final a não ser meu próprio bem. Decidi aplicar isso a finanças também. E embora seja triste ter a consciência de que eu simplesmente não tenho como comprar muitas coisas que preciso (ou mesmo terminar a obra do apartamento), estou muito orgulhoso de ter passado quase um mês inteiro sabendo exatamente quanto dinheiro eu tenho, quanto posso gastar, e quanto vai sobrar. Acreditem, é muito frustrante ter que pensar que ganhar na loteria é a única forma "possível" de equilibrar as contas. Não quero isso nunca mais.

E principalmente, estou me dando mais atenção MESMO, fazendo as coisas por mim, coisa que eu não fazia desde o curto período entre iniciar o tratamento de TDAH e conhecer a Jô. Chega de procurar alívio em contatos sociais fúteis com pessoas desconhecidas ou que não valham a pena. Nos primeiros meses depois da separação eu estava quase um junkie. E obviamente que, independente de quanta gente você conheça ou paquere, o vazio nunca some, e você pode até estar eufórico em um momento, mas deitar a cabeça no travesseiro quebra qualquer euforia. Uma vez, alguém me disse que os contatos sociais que valem a pena são os que você inicia sendo você mesmo, indo a lugares que você gosta e fazendo coisas que aprecia. Há pouco tempo, no auge da depressão, eu achava que ia demorar muito até eu estar novamente bem comigo mesmo o suficiente para atrair esse tipo de acaso. Mas agora acho que não vai demorar não. Eu só tenho que parar de insistir no caminho errado.

Claro que essas mudanças de postura não são assim instantâneas. Ainda estou passando pelo aftermatch do furacão que me atropelou, ainda estou sujeito a fraquezas e tristezas. Mas o que importa é que eu realmente acredito em tudo o que escrevi. Acredito porque faz sentido. Porque explica muita coisa, porque amarra pontas soltas, e porque eu não tirei isso da minha bunda, eu passei por muita coisa pra chegar a essas conclusões.

Então, se alguém aí ainda tá lendo, me deseje sorte! Estou içando a âncora rumo ao horizonte outra vez.


Wind

11.10.08

Acho que ainda não comentei no blog, mas em fevereiro desse ano voltei a fazer natação. Sempre soube que precisava fazer exercícios regularmente, porque mesmo em jejum completo eu só emagreço com atividades físicas, mas vários fatores me desanimavam. O principal sendo a quantidade de merda que dá quando eu faço exercícios de impacto. Se eu estou gordo, o atrito das coxas acaba comigo. Se estou magro, meu joelho fodido ou um treco que eu tenho nas ancas me machucam durante o treino. Então nunca consegui manter uma rotina de exercícios por mais do que 2 meses.

Não sei por que cacetes eu passei tanto tempo sem cogitar natação. Sempre fiz natação desde pequeno e sempre gostei, mas como natação infantil acaba sempre descambando para treino de competição, e como eu obviamente sou péssimo para competições esportivas, acho que peguei um ranço e deixei pra lá. Até que, no início desse ano, me deu essa idéia e eu fui atrás. Descobri que tem uma academia com piscina aqui do lado de casa, matriculei e comecei, assim de impulso.

E hoje, para minha surpresa, estou completando 10 meses de natação regular. Salvo dois meses - março e agosto - em que eu saí de férias e dei uma desaquecida, tenho conseguido ir nadar toda terça e quinta (e eventualmente sábado, quando não viro a noite na balada de sexta) às 7 da manhã, sem grandes dramas, mesmo durante a minha recente crise de depressão. E em nenhum momento meu corpo reclamou - pelo contrário, estou começando a entrar naquela fase em que o corpo pede o exercício. Se falto a uma aula de natação chego a perder o sono, ansioso para repor o prejuízo.

A perda de peso, como sempre, está ocorrendo muito lentamente (triste metabolismo esse meu, que pra perder 3 kg leva quase um ano de trabalho intenso e dedicado, mas pra engordar 3kg só precisa de uma semana de descontrole), mas os músculos estão tonificando agora bem mais do que na época em que eu puxava ferro, em 2003. E de forma mais consistente, porque natação não incha.

De dois meses pra cá, apesar de não ter ido em nenhum nutricionista (sou total paciente do Google Doctor, hahahahahha), comecei a fazer umas alterações pontuais nos meus hábitos alimentares e acho que os resultados estão sendo bons. Tentei não mudar muito porque toda mudança radical de dieta que eu tentei na vida, apesar de dar bons resultados, ficava insustentável depois de um tempo. Gosto muito de comida para viver restrito a um cardápio fixo, heheheheh. Mas estou, por exemplo, tomando um complexo nutricional (tipo Centrum) todo dia pra diminuir a necessidade de ficar balanceando cardápio diáriamente, até porque eu sou péssimo nisso, e o fato de comer em restaurante não ajuda. E acho que eu tinha mesmo alguma deficiência nutricional, porque desde que comecei a tomar o complexo eu tenho sentido menos fome.

Também estou tomando uma "bomba" termogênica depois de cada treino (pó de guaraná, xarope de guaraná e proteinato), e faz uma diferença incrível. E por fim, a crise financeira doméstica que eu estou atravessando me fez começar a comer bem menos no almoço e a cozinhar meu próprio jantar. A diferença dessas medidas para outras que eu tomei no passado é que essas parecem muito mais tranquilas de manter indefinidamente, ou seja, não estou encarando isso como uma dieta passageira para chegar a uma meta de peso. Posso facilmente viver o resto da vida assim e não vou sentir que estou perdendo nada.

E hoje bati meu recorde do ano na piscina. 2400 metros em 1 hora. Claro que é pouco pra quem nada há muito tempo, mas pra mim é um avanço palpável (demorei 2 meses pra consegui fazer 1600m no mesmo intervalo de tempo). E também senti hoje, pela primeira vez, que estou entrando naquela fase da prática de exercícios em que o esforço praticamente some e que a endorfina faz você se ultrapassar seus limites pelo prazer, e não pela superação. Agora já estou até começando a incluir a natação nos meus planos de férias, porque não quero ter que passar 2 semanas sem cair numa piscina nunca mais, hehehehehe.

Então é isso. Estou muito orgulhoso de mim mesmo, orgulhoso de estar mantendo esse hábito há tanto tempo, sem transformar em um projeto, sem fazer estardalhaço, só indo lá e nadando. E me sentindo bem.

8.10.08

Rápido update sobre meu projeto da scooter:

Hoje finalmente foi a última biometria (tive que ficar mais 2h enrolando em Ipanema esperando dar horário de aula) e embora ainda faltem 5 aulas práticas efetivamente, meu exame já está marcado pro dia 21. De Novembro. Era o mais cedo que tinha, mas pelo menos consegui não cair pra Dezembro.

Mas por outro lado, tanto faz. Desisti de comprar a Scooter por hora. Economia doméstica insustentável, falta de lugar pra estacionar e crise monetária internacional acabando com os preços de financiamento foram suficientes para fuder o barraco. Fail. Um dia quem sabe.

6.10.08

Uma vez, quando eu tinha coisa de 4 ou 5 anos de idade, meu pai me conta que uma vez cheguei contrariado do colégio e, quando ele me perguntou o que tinha acontecido, eu disse que queria sair da escola porque eu já sabia tudo. Claro que eu só estava tendo dificuldades em aceitar o ritmo mais lento de aprendizado do resto da sala, entendia as coisas logo de primeira e ficava entediado o resto da aula enquanto as professoras repetiam várias vezes a mesma coisa. Mas a minha sensação naquela época era sincera. De que eu já sabia tudo que existia para se saber e podia seguir com minha vida.

O que é o oposto do que eu sinto hoje em dia. Quanto mais o tempo passa, mais as coisas se desenrolam de forma inexplicável para  mim e mais eu percebo que não entendo de nada, nem do que eu tinha certeza entender. Mais e mais eu sinto que nada do que me falam, do que me ensinam, do que me afirmam, nada é correto. Mesmo as coisas que eu aprendo através da experiência, do método científico, se provam incorretas a longo prazo. E nesse ambiente volátil e imprevisível, eu estou sempre tomando na cabeça por fazer planos, projeções, e criar expectativas.

Antigamente, antes da Ritalina, eu era incapaz de responder a qualquer pessoa aonde eu pretendia estar em 5 anos. Ou em 1 ano que fosse. 6 meses! Eu respondia que não sabia nem se estaria vivo na semana seguinte. E era verdade - depois da infância itnerante que eu tive, era uma imensa dificuldade projetar qualquer coisa para o futuro. Tudo sempre mudava completamente em 2 anos no máximo.

Depois que tomei as rédeas da minha vida e depois de um período de adaptação, me certificando que nada mais mudaria drasticamente contra minha vontade, eu comecei a construir um futuro e realmente fazer planos e projeções para os anos vindouros. Me sentia seguro e amparado, e certo de que eu sabia o suficiente do funcionamento das coisas para ousar traçar uma rota e seguí-la até o fim.

E de repente, depois de tanto tempo, uma tempestade maluca vinda do além virou o barco, quase me afogou, e me jogou junto com os destroços para algum lugar desconhecido e de onde eu não sei como sair. A rota que eu seguia foi tão obliterada que eu não sei nem mais pra que lado estou apontando. Eu achei que sabia navegar. Fiz tudo direitinho, segui todas as regras, li todos os sinais. E agora sou só um náufrago esperando resgate, mas sem fazer idéia de pra onde devo ir - ou voltar.

29.9.08

Se existe uma razão para a nossa existência, se não somos apenas uma consequência do acaso, então a verdade é que acabei de decifrar minha vida. Ela é uma piada de mau gosto.

Algo como aquele português que ao ver a casca de banana na calçada à frente dá um suspiro e diz "ai, lá vou eu 'scoregaire na casca de banana outra vez!"

Esse sou eu. Dotado de uma capacidade fenomenal de percepção e incapaz de utilizá-la para evitar que eu passe pelas mesmas merdas de novo e de novo. Sempre me convencendo de que "ah, dessa vez é bobagem da minha cabeça." E nunca é. E eu sempre escorrego na porra da casca de banana e caio de mau jeito e quebro a bacia.

Espero que tenha alguém rindo, pelo menos terá valido a pena.

25.9.08

Eu queria muito saber exatamente quando minha vida deixou de ter capítulos inéditos e passou a ser uma sucessão de reprises ad nauseum, tipo uma sitcom dos anos 80.

Há quanto tempo eu estou revendo o mesmo filme passar, de novo e de novo, mudando apenas - e vagamente - a ordem das cenas?

Acho que nunca em toda a minha vida eu tive uma sensação tão forte de estar vivendo em círculos quanto hoje. Pela segunda vez, uma reestruturação gerencial me foi enfiada goela abaixo por alguém que chegou ontem e já tem uma idéia mirabolante de como fazer as coisas funcionarem melhor aqui no trabalho. Sem fazer o menor esforço para convencer os funcionários, sem agregar nenhum valor - pelo contrário, agora a responsabilidade que seria do chefe de divisão será distribuída pelos subordinados, que agora são autônomos e responsáveis por seus próprios projetos. Isso tudo, claro, mantendo o mesmo cargo e função atuais. E o argumento foi o melhor - "vai engrandecer vocês." Juro que tive que segurar a gargalhada.

E o pior é que o caos que se instaurou com a transição inesperada de estrutura vai fazer muitos projetos atrasarem e/ou falharem, o que significa que a recém-conquistada responsabilidade vai se traduzir em culpabilidade com 100% de certeza. Em suma - é uma cilada, Bino!

Não consigo nem começar a enumerara as razões pelas quais essa mudança foi um erro idiota. Mas não é esse o problema. O problema é que isso tudo já aconteceu, em 2006! E naquela vez não foi feita por um comissionado qualquer, foi feita pela FGV e a um custo bem alto. E foi uma merda!

Não aguento mais esse lugar, não aguento mais essa mentalidade idiota do funcionalismo público de que toda troca de quadro hierárquico tem necessariamente que trazer uma troca de organização e de políticas que visam "moralizar" ou "agilizar" o tribunal. Essa merda nunca vai ser ágil nem rápida, e não é por falta de vontade, mas por excesso. Porque todo mundo se acha o único gerente inteligente do judiciário federal e resolve rearrumar a casa inteira quando assume. E assim eu vou, de dois em dois anos, começando tudo de novo do zero.

Mas não consigo sair daqui. É um pesadelo logístico. Sempre depende de alguma coisa - minha graduação, a quitação das dívidas, etc. - e essas coisas sempre parecem cada vez mais distantes. Mesmo a despeito da minha consciência de que eu não podia me amarrar muito a esse lugar, que trabalhar aqui era um quebra-galho temporário, estou sempre cada vez mais atrelado a esse emprego e, principalmente, ao dinheiro que ele me dá.

Eu olho para trás e penso como eu fui burro de não sair em 2005, quando as dificuldades que eu teria que enfrentar ainda seriam totalmente administráveis. Antes de investir tanto em um projeto de vida a dois que, pra piorar, acabou não vingando. Aceitei ficar aqui para poder realizar sonhos, mas eu caí da cama e quando dei por mim, estava com a cara no chão e com os pés acorrentados a esse transatlântico furado.

Acho que está na hora de cogitar mudanças mais radicais de vida. Bem mais radicais.



Wind

24.9.08

Sobre aulas de moto, Guitar Hero e a mente de um DDA

Hoje tive prática de moto outra vez. Dessa vez fiz o circuito completo do exame, e praticamente não errei nada. O instrutor disse que não tinha nada a corrigir e que, se houvesse exame nessa sexta, eu provavelmente passaria direto, salvo se o estado emocional interferisse.

Fiquei pensando com meus botões e achei que o estado emocional não seria um fator muito impactante, já que eu ainda tenho tempo suficiente de treino para assentar a habilidade além do alcance da insegurança. O problema maior, o que pode me custar a aprovação (e mais 100 pratas e 1 mês de espera pra remarcar exame) é justamente eu estar treinado demais.

Se tem uma coisa na qual eu sou bom, é em seguir algoritmos. Repetir padrões. Por isso o circuito da prova, pra mim, não passa de uma brincadeira divertida de memorizar uma sequência de ações pra superar o obstáculo. Se me deixassem, passava horas e horas ali treinando. Isso é uma coisa que vem naturalmente para mim, a repetição. Mas então por que eu nunca consegui, digamos, praticar piano até atingir o ponto que eu queria de habilidade?

Pensei no Guitar Hero. Modéstia à parte, eu sou muito bom em jogos de ritmo. Jogo o negócio no Expert há tanto tempo que o que para muita gente é um aglomerado de bolinhas coloridas, pra mim são padrões repetidos que se traduzem em movimentos manuais quase inconscientemente. E eu aprendo rápido, também - comprei o Rock Band há menos de 6 meses e já estou tocando a bateria no Expert também, em um nível bem aceitável (claro que tem espaço pra melhorar muito ainda, mas me dêem 2 anos e vou estar tinindo). Aí alguém diz - se é tão estimulante e fácil aprender a guitarra de plástico, por que é tão difícil aprender o piano de verdade?

Ai entra a questão do DDA. A mente inquieta. Enquanto os desafios estão sendo lançados em sucessão rápida, os reflexos à flor da pele, eu sou capaz de passar horas entretido. Mas basta a atividade automática dispensar a atenção, ficar redundante, que a mente divaga e eu cometo algum erro idiota. Mesmo me forçando a prestar atenção, pequenos deslizes aqui e ali normalmente botam tudo a perder. Essa é a razão pela qual eu sou um excelente jogador de Guitar Hero no nível fodalhão, mas sou péssimo no nível iniciante. A distância entre uma nota e outra e a simplicidade dos padrões é um convite ao desligamento e ao consequente erro. Essa é também a razão pela qual eu sempre, SEMPRE erro alguma coisa idiota em provas cuja matéria eu domino. Perdi um 10 na média de Geometria Descritiva no semestre passado por um erro tão imbecil, mas TÃO imbecil, que chega a dar desgosto. Tipo, confundir ímpar com par.

Por esse motivo, a minha dificuldade em fazer tarefas simples, eu tenho medo de treinar demais o circuito da prova de moto e, na hora, cometer alguma idiotice porque comecei a pensar na morte da bezerra. Nessa hora, o nervosismo é um inesperado aliado, porque ajuda a focar. Mas mesmo o nervosismo passa com treino suficiente. E dada minha progressão rápida nas aulas práticas, é bem capaz que eu não passe por ser tudo muito fácil.

Agora é torcer pra pegar um avaliador com cara de nazista. =P


Wind

22.9.08

E hoje - notem bem - foi minha segunda aula de pilotagem de moto. Semana passada a porcaria da chuva não deu trégua e eu não tive nenhuma. Agora tive que remarcar pra semana que vem (teoricamente quarta-feira agora seria a última) e provavelmente só vou poder marcar meu exame pra Dezembro (!), quando fatalmetne já terei perdido toda a habilidade =/ graças a São Pedro, o sistema idiota do Detran, e minha própria agenda de compromissos diária que se unem para ferrar minha vida. Pelo menos eu tô pegando rápido o jeito, quarta já vou fazer o circuito completo e depois é só praticar até a perfeição. Vamos ver se, chegando perto da prova, eu marco (pago) mais umas aulas pra relembrar... foda é ficar sem carteira nenhuma até lá, nem de moto e nem de carro.

Ah, só uma nota quanto ao post anterior: é bom relembrar aos leitores do blog que meu compromisso sempre foi e sempre será com meu bem-estar acima de tudo. Se eu reclamo aqui e abro meu coração, é apenas um desabafo necessário para superar os obstáculos. Que é o que eu estou fazendo, sempre.


Wind

15.9.08

E lá vamos nós de novo. Peço desculpas aos eventuais leitores, como sempre, por mais um desabafo blogado. Mas a verdade é que desabafos fazem parte desse blog, basta olhar o histórico para ter uma idéia. Aliás, por mais que eu tente sempre dar um rumo mais coeso para esse treco, a verdade é que ele reflete a minha própria pluralidade. E isso é bom, porque mais de uma vez eu já recorri ao histórico de posts para reavaliar sob outra ótica os momentos que eu já vivi - impressos não apenas nos posts enormes e filosóficos, mas também nas entrelinhas dos posts corriqueiros. O blog é meu espelho, e como qualquer espelho, nunca reflete o que queremos ser, só o que somos.

E o que eu sou - já fui, estou tornando a ser - é uma pessoa ancorada a uma rocha pesada e que atravanca meu progresso. Desde as recentes reviravoltas da minha vida - que certamente não são novidade para ninguém - estou me sentindo novamente como naquela longínqua época pré-Ritalina. E o pior é que agora não tem comprimido que resolva miraculosamente. Essa rocha, só o tempo vai erodir.

Por um lado, não me deixo prejudicar tanto por ela, porque tenho longa experiência em arrastar pesos pela vida afora. Mas por outro lado, tudo o que eu conquistei desde que iniciei meu tratamento está por um fio. Novamente sou incapaz de manter o foco, de prolongar esforços, de acompanhar raciocínios... só que agora tenho compromissos com a concentração que precisam ser honrados. Sou o único responsável por várias frentes de trabalho no tribunal, estou entrando no último ano da faculdade, e um deslize agora pode botar muita coisa a perder.

Também tenho plena consciência de que o peso foi colocado por mim, e só pode ser retirado por mim. Mas entre conhecer a solução e alcançá-la sempre existe uma barreira invisível, porém poderosa. Porque quanto mais ancorado eu me sinto, menos vontade eu tenho de reagir. Pode parecer idiota, mas é um efeito comum no meu dia. Sua manifestação mais clássica é também a mais irônica: a despeito de todas as histórias sobre dependência química causada pela Ritalina, confesso que só tomo o remédio diariamente por pura disciplina. Porque assim que o efeito passa (e passa de 4 em 4 horas, então eu tenho que tomar outra) o que acontece é que eu me convenço que não preciso de outra. E quanto mais enevoada fica a cabeça, quanto mais me esvai a capacidade de prestar atenção, mais difícil pra mim é o simples ato de pegar outro comprimido e tomar. Existem alternativas, comprimidos que têm dissolução lenta que se estende por 12 horas, e evitam esses vales ao longo do dia. Por que eu não tomo? Acho caro. Não consigo priorizar, sempre tem algum gasto (ou economia) mais importante.

Minha maior dificuldade atualmente é escapar das armadilhas do instinto, que insiste em me levar a situações viciosas. É difícil, por exemplo, me forçar a sair e ver pessoas no fim-de-semana, quando o instinto me diz que eu quero mesmo é ficar sozinho. E aí, quanto mais tempo sozinho eu passo, mais deprimido eu fico e, por consequência, mais avesso à idéia de sair ou de falar com alguém. E por mais que eu evite essa situação 90% das vezes, os outros 10% são suficientes para acabar comigo.

É foda, saber exatamente o quadro clínico e o tratamento para o que se está sentindo, mas ser incapaz de aplicar. Isso sem falar nas tentativas fracassadas de resolução. Porque eu ainda tenho um certo nível de ingerência sobre a situação toda, mesmo que se resuma a escolher entre duas dores qual eu prefiro sentir. Havia escolhido uma, que se mostrou insuportável, e corri para a outra na esperança de ter algum alívio momentâneo na troca. Mas não faz diferença. Seja qual for a natureza e o ponto de efeito, a dor suga as mesmas energias. Trocar, digamos, uma dor de cabeça muito forte por um braço quebrado, apesar de parecer inteligente na hora, no fim das contas não tem qualquer outro efeito além de machucar você em dois lugares ao invés de um só.

E assim eu vou seguindo. Tentando não parar para não assentar a pedra e ter que vencer o coeficiente de atrito outra vez quando precisar continuar. Mas não consigo fingir que a dor não existe, nem dispensar menos atenção a ela. E não consigo estar 100% enquanto não cortar as amarras. Acho que nem 50% eu consigo atualmente. Só espero que tenham paciência comigo. Juro que estou me esforçando!


Wind

11.9.08

E como eu voltei a blogar... obviamente voltarei a fazer testes imbecis :PPPP


The Nerd (Brasil) Test -- Create and Take a Fun Test @ NerdTests.com's User Tests!


auhuhahuahuahuahuauhhua genial!

10.9.08

Hoje foi minha primeira aula de pilotagem de moto. Era pra ter sido na segunda, mas choveu. E ainda rolou um arranca-rabo com o instrutor estressado que simplesmente surtou comigo porque não sabe informar as coisas e depois se irrita quando eu pergunto, mesmo que seja pela primeira vez.

Mas enfim. Passado esse episódio lamentável, hoje estava tudo ok e pude ficar praticando partida, freada e troca de marchas. Mesmo já tendo pilotado moto antes (quando tinha uns 13 anos, supervisionado pelo meu pai que sempre foi motoqueiro de trilha) eu ainda tinha um medo irracional de moto, especialmente depois que caí duas vezes (no mesmo dia!) com a 650cc do meu pai em 2000 - eu não pilotava há anos e ele quis que eu tentasse praticar no solo arenoso e seco de Brasília, com uma moto muito mais pesada do que a XL 250 antiga dele, não podia dar certo mesmo - e fiquei meio traumatizado com moto. Mas foi bem tranquilo no fim das contas.

Engraçado que relendo os arquivos do blog, encontrei um post sobre minha primeira aula de direção - 5 anos atrás, holy shit - em que eu digo que tinha a nítida sensação de que jamais aprenderia a guiar na vida. E no entanto, obviamente, eu tiro de letra hoje em dia. Acredito então que ter me dado bem com a moto logo na primeira aula é um bom sinal :)

A parte mais pentelha de pilotar moto é a troca de marchas naquele pedalzinho de 1800 e guaraná de moringa. Mas como eu tô tirando carteira pra pilotar scooter, que tem câmbio automático, é um incômodo passageiro que só vai me atormentar até o dia da prova.

Chato mesmo é saber que provavelmente minha prova vai ser só em Novembro :/ Vou bem deixar umas aulinhas de crédito pra marcar perto da data, senão vou perder toda a prática.

E é isso aí :) Boa sorte pra mim!! \o/

8.9.08

Tem dias que nem toda a convicção do mundo consegue evitar que a gente caia no buraco e se estrepe lindamente. Hoje, a chuva, o sono, a agressividade gratuita alheia e a solidão se somaram pra me vencer.

4.9.08

Pois então. Meu mais novo projeto, para quem ainda não sabe, é a aquisição de uma scooter para me livrar das restrições do transporte público - e também pra curtir por aí. As fases preliminares já estão em curso: aproveitei que estava na época de renovar a CNH e já paguei uma inclusão de categoria. Ontem fiz o exame e amanhã devo ir na escola marcar as aulas e a prova.

Também já pesquisei bastante e me decidi pela Yamaha Neo CVT 115cc. Primeiro, porque ela tem todo o conforto das scooters clássicas (câmbio automático, economia de combustível, baú, vão central, etc.) mas tem rodas grandes de 16" - porque aquela rodinha de 10" ninguém merece - e tem potência suficiente para poder fazer curtas viagens em rodovia, o que é um dos meus maiores objetivos. Segundo, porque é a moto do Sandy & Júnior!!

Mas ainda tem um problema que eu não resolvi e que pode botar tudo a perder: AONDE CARALHOS estacionar a bicha. Minha escritura não tem vaga de garagem, e o condomínio não tem área para motos (embora tenha espaço de sobra pra fazer uma) e diz que só dá pra estacionar moto junto do carro numa vaga de carro. Que eu não tenho. E não só isso, podia pedir pra encostar na do vizinho, mas tem que ser algum vizinho muito específico porque só umas 15 vagas deixam espaço pra estacionar moto sem que o carro obstrua totalmente a mesma. "Plano B," pensei, "vou estacionar num dos dois mensalistas que tem na minha rua."

Quem disse que algum deles aceita moto?

Parei pra pesquisar direito e praticamente NENHUM estacionamento guarda moto! Isso é um absurdo! Até falei que a moto vai estar segurada, com rastreador, bloqueador e o cacete a 4, mas nem chance. Aparentemente as seguradoras metem a faca em estacionamento que trabalha com moto nas grandes metrópoles, e por consequência, esses quase não existem.

Aí eu me pergunto: COMOFAS//?/ =///////

Alguém tem alguma idéia?


Wind

29.8.08

E parece que esse blog terá um visitante 12.000 afinal :D


(Belas merdas... o Google deve receber isso por nanosegundo!)


O felizardo pode se apresentar!

23.8.08

Meu blog tava parecendo porão de casa de vó, com um layout cavernoso, poluído, velho e já com metade das funcionalidades estragadas... então resolvi repaginar e fazer uma parada mais concisa e legível :)

Apresento-vos o novo Windblog! Agora (de novo) com comentários, marcadores e um banner tosquérrimo feito com meus conhecimentos profundos de Photoshop adquiridos lendo aqueles livrinhos de tutorial na própria banca :P

Com o tempo, vou adicionando retroativamente os marcadores aos posts do histórico, e espero que um dia o Blogger.com arrume uma ferramenta de importação de comentários (o antigo host saiu do ar e me ofereceu um backup dos comentários antigos em um arquivo supostamente padronizado e universalmente aceito... menos pelo Blogspot ¬¬), aí eu recupero o registro e deixo tudo redondinho :)

Agora só falta ter vergonha na cara e voltar a postar :P


Wind

22.8.08

Estou com uma questão mordaz no fundo da cabeça. Ainda está se formando, talvez já até tenha uma resposta que a juventude do raciocínio na mente ainda não tenha tido tempo de descobrir. Mas é algo em que eu tenho pensado com cada vez mais frequência nos últimos dias:

Afinal, paixão é bom ou ruim? Serve pra alguma coisa? Quais os prós, quais os contras, e - especialmente - é mesmo possível viver sem, ou saudável viver com?

Eu sei que a idade arrefece as paixões, e obviamente isso me incomodava quando eu era adolescente. Sonhava em ser um cara que jamais perderia a capacidade de se apaixonar, de se dedicar de corpo e alma a um ideal, de me jogar na frente de um trem por uma pessoa. Mas ultimamente ando de mal com a paixão. E acho que não é passageiro. Cheguei em um ponto da vida em que eu sei exatamente o que quero para mim, sei do que eu gosto e do que eu preciso, e sei de onde tirar cada uma dessas coisas. E, muito para minha surpresa, a paixão não se encaixa em lugar algum desse cenário!

É inegável - estar apaixonado é maravilhoso. É uma das coisas mais intensas que pode acontecer a um ser humano, e qualquer pessoa que passa pela vida incólume à paixão não pode dizer que realmente viveu. Mas será que é mesmo necessário viver apaixonado? E por que tanta gente pensa que sim?

Seria, talvez, porque a paixão arrebata, aflora os sentidos, e provoca sensações fabulosas de prazer e felicidade plenos? Bom, eu conheço algumas outras coisas que se encaixariam nessa descrição, e a maioria delas é ilegal! De fato, esse tipo de torpor, de experiência sensorial, quando provocado por alguma outra substância ou estímulo, normalmente é tido como produto de alta periculosidade, causador de dependência, que prejudica a lucidez e a longo prazo se torna uma válvula artificial de escape que pode destruir psicologicamente o usuário. Por que então a versão natural e não-assistida do exato mesmo estado de espírito é considerada uma coisa linda, tema de cartões fofuxos de dia dos namorados e de manifestos políticos inflamados?

Além disso, a paixão, assim como a adrenalina, tem efeitos aditivos sobre o organismo. O apaixonado concentra-se melhor, resiste melhor às intempéries, ultrapassa todos os seus limites. Quem há de negar que os atletas apaixonados por suas camisas são melhores do que os que fazem por dinheiro? (As seleções masculina e feminina de futebol estão aí para provar meu ponto). Deveriam eles ser pegos no doping? E quanto às consequências desastrosas que a inevitável perda de efeito da paixão podem trazer ao rendimento pessoal de um apaixonado?

Todo mundo conhece ao menos menos um junkie de paixão; aquela pessoa que está sempre se apaixonando por alguma coisa nova - ou alguém novo - e jogando sua própria vida pro alto numa sequência sem fim de inconsequências anunciadas. Aquela pessoa que parece sempre tão radiante e poderosa, mas que muda da água para o vinho quando perde sua paixão, como um drogado que cai na real e precisa desesperadamente de outra dose. Essas pessoas, os apaixonados crônicos, são realmente felizes? Ou são o tipo de gente cujo espírito estacionou na evolução e que, no fim das contas, desperdiçam a vida em busca do imediato sem jamais construir nada eterno?

Paixão é uma palavra muito mal-utilizada, também. Costumo ouvir coisas como "Fulano e Beltrana são apaixonados há 30 anos." São mesmo? Apaixonados?? Do tipo que acorda, olha pra cara do outro e sente o coração palpitar e o chão fugir aos pés? Que vai trabalhar e passa o dia inteiro olhando pro infinito sonhando com o parceiro que verá em poucas horas? Que a cada contato de pele explode em um beijo sôfrego e apaixonado que culmina em orgasmos estremecedores?

Acho que não. Acho que o fato de Fulano e Beltrana andarem de mãos dadas todo dia, trocarem olhares enamorados cotidianamente, ainda gostarem do abraço e do beijo um do outro mesmo tantos anos depois, isso tudo tem a ver com o amor, não a paixão. Amar pela vida inteira, isso sim é possível, plausível, e construtivo. Mas não é paixão. Ainda bem!

Sei que muita gente acha que ainda não teve sua dose de paixão na vida. E como poderiam, sendo a paixão uma coisa tão viciante? Mas eu, por outro lado, começo a achar que tive. E que estou muito feliz por não me apaixonar mais pelas coisas, significa que evoluí. Que consigo quantificar (e qualificar) minha dedicação às coisas, que consigo ter controle sobre meu organismo, que consigo avaliar as coisas com lucidez mesmo em se tratando de assuntos apaixonantes. Consigo até, livre da dependência que a paixão causa, amar mais próximo do ideal - sem associar amor a dever, a poder, ou a necessidade.

Claro que a paixão é uma raposa velha e ainda vai me dar muitos sustos na vida (quando tiver meu primeiro filho pretendo reler esse texto e balançar minha cabeça lentamente), mas quando ela passar - e passará - eu estarei sempre satisfeito pela experiência e grato pela oportunidade. E só.

Moral da história: apaixone-se com moderação. :)

9.7.08

Pouca gente imagina, mas por baixo de todas as camadas de civilidade, moral, educação e sofisticação da minha alma, tem um pequeno santuário dedicado a todas aquelas coisas guturais e inerentes da natureza animal do ser humano. Uma espécie de área reservada para esses sentimentos todos se projetarem e fazerem o que quiserem, criando as mais elaboradas situações hipotéticas aonde não há limites ou consequências.

Vocês não fazem idéia do tipo de merda doente que está rolando lá nesse momento!

19.6.08

bury it
I won't let you bury it
I won't let you smother it
I won't let you murder it

our time is running out
our time is running out
you can't push it underground
you can't stop it screaming out
How did it come to this?
ooooohh

http://www.vivorio.com.br/shows_detalhe.asp?ID=77

14.6.08

Como é frustrante o fato de não termos ingerência sobre o livro de nossas vidas. O mínimo que eu esperava era ser o autor da minha própria história, mas quis o destino que uma mão fantasmagórica do além surgisse e escrevesse um capítulo horroroso e violento à minha revelia. Eu não quero esse capítulo! Ele não combina com o roteiro, avacalha com o desenvolvimento dos personagens, pulveriza a continuidade! Como eu faço pra apagar essa merda de trecho agora que escreveram ele por mim?!

Inferno de universo que não tem backspace.